Por que os direitos de mídia só crescem

A disputa entre Globosat e Esporte Interativo pelos direitos de transmissão do futebol brasileiro a partir de 2019 é um reflexo de uma nova realidade no mercado de mídia que deverá aumentar, e muito, os ganhos do esporte com a cessão dos direitos de transmissão de seus eventos.

Estudo divulgado recentemente pela consultoria PwC mostra que, nos Estados Unidos, os direitos de mídia serão o segmento que mais vai gerar receita para o esporte nos próximos anos. E, a partir de 2019, pela primeira vez, os ganhos com a venda de direitos de transmissão serão maiores do que o arrecadado com bilheteria pelas ligas americanas.

A razão para isso é relativamente simples. E o raciocínio que funciona para o mercado americano se expande rapidamente para os outros países.

O consumo da mídia está cada vez mais fragmentado. As pessoas se dispersam não mais apenas com a TV a cabo, mas com dispositivos móveis, aplicativos como Netflix, exibições em aparelhos como o Apple TV e também em videogames e TVs com acesso à internet.

Hoje, a lógica de consumo da mídia é do conteúdo sob demanda e não mais em tempo real.

Aí é que o esporte passa a ser valioso. Com eventos esportivos de alta qualidade (a NFL é um ótimo exemplo) e/ou grande interesse do público (o Brasileirão é o equivalente por aqui), as empresas de mídia só têm uma alternativa, que é pagar, bem alto, por eles. E o valor é determinado, pura e simplesmente, pela força que esses eventos possuem de atrair grande grau de interesse das pessoas em consumi-los em tempo real.

A tendência de consumo sob demanda do conteúdo de mídia só não é verificada no esporte, em que o consumidor faz questão de acompanhar o evento em tempo real, e não apenas quando ele está em seu tempo livre. A força da transmissão ao vivo faz do esporte um produto como nenhum outro.

Só para se ter uma ideia, na transmissão do último Super Bowl, domingo passado, a rede americana CBS obteve uma audiência de 111,9 milhões de pessoas. É a terceira maior audiência da história da TV americana.

Um dos números celebrados pela emissora, porém, foi o de quanto o Super Bowl aumentou a audiência de programas que foram exibidos após a grande final do futebol americano. O “The Late Show With Stephen Colbert” que foi ao ar após a vitória do Denver Broncos sobre o Carolina Panthers foi visto por 21,12 milhões de pessoas. Só para se ter uma ideia do ganho proporcionado pela transmissão do futebol, a média do programa no último ano foi de 2,9 milhões de espectadores.

Se o futebol brasileiro trabalhar para melhorar a qualidade do produto que é oferecido para a mídia, poderá ver um novo salto nos valores pagos pelas emissoras pela transmissão de seu evento. Para conseguir isso, porém, temos ainda de entender que é preciso pensar coletivamente no futebol, e não individualmente nos valores que as emissoras pagarão aos clubes…

 

Fonte: Erich Beting