Escolha de técnico no Brasil

Fala galera Rubro-Negra,

Em meio a nossa expectativa pela reformulação do elenco e principalmente a chegada do novo técnico, resolvi postar esse texto que foi escrito pelo Léo Miranda no seu Blog “Painel Tático” na Globo.com.

Ele foi postado no dia 10/03/16 após a demissão do técnico Marcelo Oliveira pelo Palmeiras e faz um grande análise sobre as escolhas dos técnicos no Brasil, achei bem interessante, confiram ae:

 

Demissão de Marcelo Oliveira do Palmeiras é recado para mudar a forma como se analisa futebol – para todos

Marcelo Oliveira decepcionou no Palmeiras. Em 53 jogos, 24 vitórias, 11 empates e 18 derrotas: 52% de aproveitamento. Pouco para um técnico que teve pré-temporada, condições de trabalho de clube europeu, elenco e uma paciência. Evolução nula após 9 meses, retrospecto ruim no Allianz e futebol pautado em conceitos antigos como marcação individualizada e volante “pegador”. Não dá pra dizer que a demissão foi injusta.

Não se questiona o mérito na Copa do Brasil – conquistada nos pênaltis, com Prass brilhando e na base da superação e da raça que o palmeirense tanto gosta. O foco aqui é o trabalho. Ganhou título, mas o desempenho foi muito ruim. Por que o treinador bi-campeão brasileiro fracassou? Por que o time jogava tão mal?

Pense: qual era o argumento para sua chegada? “É o treinador bi-campeão brasileiro”. Até aí, válido. Mas alguém perguntou sobre suas ideias? Modelo de jogo? Métodos de treinamento? A forma de motivar e lidar com o cotidiano? Nesse caso, o peso das conquistas ofuscou os detalhes que influenciam no resultado final.

A avaliação feita é irracional, emotiva. Se perde, “não era tão bom assim”. Se ganha, “era bom mesmo”. Foco no individual, pensamento mágico no técnico como salvador da pátria. Tudo errado se o resultado não vem, tudo ótimo se ganha. 3 vitórias seguidas? Boa fase. 3 derrotas? Crise. O futebol brasileiro é refém das hipérboles, dos exageros pós-jogo. Não há projeto, identidade, noção do que é o clube, como a equipe deve jogar para satisfazer o torcedor. Apenas o ganhar por ganhar.

Isso cega para os processos. O futebol brasileiro gasta muito e gasta mal. Não existe processo, é tudo no improviso. Pense por você mesmo: como o Palmeiras faz gols nesse ano? É fruto de treino ou do acaso? Foi achado ou foi trabalhado?

Treinadores são contratados por conquistas, não por processos, ideias e o que podem entregar. Será que o Cruzeiro de 2013/14, que imortalizou Marcelo, foi dissecado no processo decisório? Leia o texto: havia um volume de jogo, intensidade e fase técnica de jogadores-chave. Defeitos como a pouca compactação, a ausência de jogo propositivo pelo centro e o excesso de bolas longas sem um plano por trás não foram ressaltados na análise.

Contratar técnicos passa por investigar o dia-a-dia. O ex-técnico palmeirense é adepto de coletivos, treinos fechados de bola parada e campo reduzido de 2 toques pra saída de jogo ficar rápida. Na equipe, um meia-armador saindo do lado e um driblador “quebrando a marcação” pelo centro – Dudu fez mais gols. Querendo ou não, é uma ideia. Com qualidades e defeitos. Mas como funcionava? Quais eram os prós e contras?

Essa pobreza de conclusão e preguiça de pensamento acabam pensamento por criar pressões e “mitos” que nem sempre correspondem à realidade. O Palmeiras de 2015, aos poucos, sentiu os efeitos de uma preparação ruim, com treinos que não copiavam a intensidade do jogo. Quantas vezes você viu o Lucas perdido no meio-campo? Não é preguiça, nem falta de raça: é o sistema, que individualiza a marcação e obriga o jogador a correr atrás dos pontas. Se leva amarelo, sai: como precisam correr atrás, o risco de levar cartão e ser expulso é maior.

16 sessões de treino na pré-temporada depois e uma espantosa falta de evolução em 2016. Começou com o Linense, se desenhou no 2º tempo sofrível contra o Rosário e no vexame de ontem. Não deu certo, a equipe não evoluiu. Pode-se questionar a falta de uma ideia mais atualizada, mas jamais desrespeitar o bom profissional e pessoa que é Marcelo Oliveira.

O torcedor pede Cuca pelo que ele fez com o Atlético-MG. Uns não, acham ele “fraco”. O mesmo erro – não no nome, respeita-se muito o bom profissional e técnico – mas na visão de que uma pessoa sozinha irá “salvar” ou “afundar” o Palmeiras. A fase de grupos da Libertadores termina dia 17 de abril. O que Sampaoli, Cuca, Eduardo Baptista, Jair Picerni ou Mourinho fariam até lá? No máximo, um choque comportamental.

Precisamos ver nuances. Entender que as coisas são complexas e nem sempre cabem em 140 caracteres ou ideias prontas. Deixar os pré-conceitos de lado, focar menos se o cara “é bom” ou “é fraco” e tentar enxergar que tudo tem seus pontos positivos e negativos, que nada no futebol significa uma garantia. Mudar não é mais necessário, é urgente. Pro 7×1 não ficar diário.