Vender o Estádio Antônio Accioly seria como vender nossa casa!

Por: Renato Rodrigues

A casa de cada família é um lugar sagrado e de proteção aos que ali habitam. É a identidade, a referência, é muito mais que apenas o endereço para receber uma correspondência. Embora esse endereço seja também de suma importância. Podemos afirmar que sem endereço residencial e o respectivo documento que comprove tal situação, sequer abre-se uma conta bancária ou consegue agendar uma consulta médica no Sistema Único de Saúde (SUS).

Quando falamos de futebol não resta dúvida que para um time e sua torcida certamente sua casa é seu estádio. A sua praça esportiva onde recebe os adversários para um simples amistoso ou onde tem em seus registros jogos que ficaram na história do clube. Ali a torcida se reencontra periodicamente para assistir novas partidas e relembra lances que não saem da memória. Essa romaria de ir assistir aos jogos do time do coração se repetem por anos, por décadas, passa de geração para geração. E isso vira rotina, vira costume e tradição. Isso é a cultura.

Assim visualizamos o grandioso Estádio do Atlético Clube Goianiense. O Dragão querido da Campininha tem casa e essa casa tem nome: Estádio Antônio Accioly. Essa é a sua casa, sua identidade, sua referência. Ali disputou jogos memoráveis, impondo a condição de mandante. Aconchegante e caloroso, durante décadas foi o ponto de encontro dos atleticanos em dias de treinos e de jogos. Local da família rubro negra comparecer em peso para vibrar e torcer com seu time querido. Em pleno meio de semana, em tardes ensolaradas ali mandou importantes jogos. Nos finais de semana, a programação da comunidade de Campinas e dos demais bairros da Capital, já estava desenhada, comparecer ao Estádio Antônio Accioly para mais um jogo do Dragão.

Nos dias atuais, acompanhamos uma crise econômica e política em nosso País. Cada empresa e cada família, tem realizado cortes em seus orçamentos, pois tem mostrado necessária a adequação à nova realidade. Em situações de crise e endividamento, o comportamento deve ser o mesmo. Busque os grandes nomes da economia e certamente recomendarão aumentar a receita e diminuir a despesa para buscar o equilíbrio das contas. Essa é a receita e o segredo, o equilíbrio das contas, ou seja, não gastar mais do que recebe. Porém, em tempos de crise, uma ou outra família, na aflição do endividamento, do desemprego ou por outros problemas chegam ao ponto de tomar uma decisão dolorosa, vender a sua própria casa. Ao receber o dinheiro proveniente da venda, dá-se a noção de que todos os problemas serão resolvidos. Mas, esse dinheiro geralmente é utilizado para pagar as contas e depois de pouco tempo, se não ajustar o orçamento novas dívidas virão. E então? Vender minha casa hoje? O que vender amanhã?

Vender a sua casa deve ser a última alternativa. Pois, a venda gera a falsa sensação de solucionar os problemas financeiros, mas, na verdade gera mais despesas e custos a qualquer família, que dificilmente voltará a morar no mesmo local ou nas mesmas condições. Da mesma forma, uma possível venda da casa do Atlético, poderia dar a sensação de solução da situação financeira do Clube, mas por outro lado, certamente deixaria a torcida sem casa, sem identidade, sem referência e com o passar dos dias, restariam mais dívidas, pois mandar seus jogos definitivamente fora de seus domínios geraria mais custos.

Um time de futebol, da dimensão do rubro negro goiano, não pode seguir o exemplo de outras agremiações que mudaram de casa, de endereço, e até mesmo de cidade. O momento é de unir todos dirigentes, sócios e torcedores, buscar soluções a curto, médio e longo prazo, para equilibrar as contas definitivamente. É hora de concluir as obras e voltar a mandar seus jogos em sua casa, receber sua bela torcida, ter a família nas arquibancadas. Há de se respeitar a tradição e preservar a memória da instituição. Não vender o querido e majestoso Estádio Antônio Accioly é ganhar hoje um importante campeonato que há de ser celebrado por muitas gerações.

 

(Renato Rodrigues é advogado, contador, poeta, presidente da Academia Aparecidense de Letras, torcedor e sócio-proprietário do Atlético Clube Goianiense)

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