Opinião: Dragão 2022 – Um amor que sobrevive às quedas 

Foto: Alan Deyvid/ACG

Cá entré nós, em uma relação de amor, os tropeços são inevitáveis. No futebol, que move paixões avassaladoras, não seria diferente. Caímos da Série A para a Série B? Sim. Mas, pera aí, passado algum tempo, que lembranças ficam de um amor? As boas, sem dúvida, isso é o que marca, é o que fica na nossa História. Transcorridos alguns anos, ninguém lembra mais dos desencontros, das “raivinhas” e das frustrações, mas recorda dos momentos ardentes, das tardes que aceleraram o coração, das noites que nos fizeram gritar de alegria… Ah, essas são inesquecíveis e marcam para sempre! Assim será lembrado o 2022 do Atlético Clube Goianiense, o ano em que terminamos em 13º lugar no Ranking da CBF, o melhor time goiano entre os maiores do país.

O ano começou de maneira espetacular, já nas categorias de base fomos o clube goiano melhor colocado na Taça São Paulo de Juniores. Em seguida o rubro-negro faturou o Campeonato Goiano, mas não qualquer edição, foi aquela em que ultrapassamos o Vila Nova em número de conquistas do Estadual (Aliás, voltamos a ficar à frente, pois o Dragão viveu cerca de 4 décadas com mais títulos goianos que o Vila Nova, de 1944 a 1978). A final desse Campeonato? Nem se tivéssemos escrito um roteiro para um filme seria tão perfeito. Contra o Goiás, tivemos uma vitória por 1 a 0 no 1º jogo com um Estádio Antonio Accioly lotado e um sonoro 3 a 1 na casa do adversário no segundo jogo, simplesmente a primeira final de Campeonato Goiano disputada na Serrinha teve como campeão o Dragão, isso não se apaga. Somado o placar das duas partidas: 4 a 1 sobre o rival verde.

E o que dizer do Dragão na Copa Sul-americana? Simplesmente uma sequência inédita de vitórias e eliminações sobre gigantes do futebol: LDU-Equador, Olimpia-Paraguai e Nacional-Uruguai (com a presença da estrela Luizito Suárez). O rubro-negro  goiano venceu todos os jogos que disputou em Goiânia, mostrou a força da sua Torcida que teve públicos de 17.000, depois 22.500 e, por fim, 33.000 torcedores no Serra Dourada. Quem é que vai esquecer da alegria de ver vitórias contra times do Chile e da Argentina bem ali no alambrado do Accioly?  Quantas famílias, amigas, irmãos, namorados… partilharam esses momentos? Eu mesmo vou guardar a imagem daquele Serra Dourada lotado em vermelho e preto na vitória por 3 a 1 contra o São Paulo ao lado do camarada Guilherme, mais novo atleticano do pedaço, encontrando Gabriel, Henrique, Maurinho, o poeta Aléx, o Gil de Pirenópolis…

Falemos então de Copa do Brasil. Oitavas de final e acontece o Clássico dos Clássicos – o derby mais importante da história do futebol goiano, disse a imprensa local aos quatro cantos, o de maior repercussão nacional, o de maior renda e ainda com aquele gosto de tira-teima da final do Campeonato Goiano. Atlético x Goiás com transmissão local, nacional, internacional… e tema em todas mesas de debates esportivos do Brasil. Empate no primeiro jogo no Bairro de Campinas e decisão na Arena Serrinha. Torcedores do Goiás diziam que “Ah, no campeonato goiano o time era outro, com esse vocês não aguentam, temos o artilheiro Pedro Raul”… Resultado: 13.000 esmeraldinos, estádio do rival lotado, e uma goleada de 3 a 0 do Atlético, um verdadeiro massacre, Dragão classificado e o Periquito eliminado. Lá do Recanto Chopp, popular “Bar do Luiz Cabeça Branca”, na Avenida Ceará, no Bairro de Campinas, eu e minha amiga Cláudia Vicentini, junto com o Renan Accioly (Sim, esse sobrenome não é a toa, ele é neto do nosso patrono Antonio Accioly), celebramos, gritamos, e tiramos muita onda com os poucos esmeraldinos que foram de bicudos ver o jogo na “nossa área”. Quem é que vai esquecer um negócio desses?

Ocorreram as eliminações na Sul-americana contra o São Paulo e na Copa do Brasil contra o Corinthians? Sim. Mas, diga lá, atleticano, o que ficará na memória será o Accioly lotado em rubro-negro e os 2 a 0 sobre o Corinthians. Eu lá estava ao lado do meu pai, o “Dalvo da Campininha”, do alto dos seus 75 anos, do meu irmão Adriano, da linda Angélica, da Dona Shirley, da Dona Sônia, de amigos tantos… junto à Torcida Dragões Atleticanos aos gritos de “Somos do Bairro de Campinas, Bairro de Luta e Tradição”… O que estará entranhado em nossa alma serão as vitórias e que nós mostramos pros paulistas que, no bairro da Campininha e na Serra Dourada, esses bandeirantes não se criam não! Ouviram calados o show da massa atleticana empurrando o time para as vitórias. Ao contrário de uns rivais aí, né, que, quando enchem o Estádio, costumam tremer e passar vergonha… Aliás, o Atlético foi o dono dos melhores públicos e das maiores rendas do futebol goiano em 2022. Provocações à parte, aqui a camisa é pesada, é o primeiro time dessa capital, como diz a música do Lindomar Castilho em referência a um torcedor símbolo que tivemos:  “Respeita as Cores Vagabundo”!!

Então, torcedor, lembremos mesmo do nosso rival verde, eles recordam do que em 2010? Nem lembram do rebaixamento que tiveram, só recordam da campanha na Sul-Americana. E assim será conosco, não tenhamos dúvida que, em 2022, milhares de pessoas se tornaram atleticanas com nossas campanhas. Mostramos um futebol ofensivo, a força do Accioly e, até na Série A, que infelizmente caímos, fizemos jogos majestosos, como aquele 3 a 2 de virada sobre o Fluminese, bem ali na Campininha, na nossa casa.

Nosso amor pelo Atlético não tem divisão, nossa torcida só cresce, nosso Estádio está estruturado, nossas Categorias de Base estão cada vez melhores, fomos campeões sobre os rivais no Sub 20, Sub 17 e Sub 13.  Em breve podemos ter uma Loja de produtos ainda maior, um Bar e Restaurante, um Museu, uma Sala de Troféus… O Dragão é mais que um Time ou uma campanha em um campeonato, é o Clube da nossa paixão! Enfim, só tem tombos quem sonha alto e para quem já passou tudo o que passamos em nossa História, é melhor tropeçar buscando o topo do que se conformar com a mediocridade. O 1º Clube do Povo dessa capital vem com tudo para 2023, e agora com mais e mais torcedores e torcedoras que carregarão esse amor cheio de boas memórias por toda a vida. É o Dragão de Campinas, o Campeão do Estado, é o Dragão do Brasil !!

Paulo Winicius “Maskote” – Diretor de Patrimônio Histórico e Cultural do Atlético Goianiense, Historiador, Professor, Doutorando em História pela USP, Sócio Proprietário do Atlético.

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