Atlético-GO – 83 anos do clube de maior Tradição do Estado

No dia 02 de abril de 1937 os jovens idealistas Edison Hermano, Nicanor Gordo, Afonso Gordo, Alberto Gordo, Armando, Benjamim Roriz, Ondomar Sarti, João de Brito Guimarães, João Batista Gonçalves, se reuniram no Bairro de Campinas no salão do sobrado do Hotel Pouso Alto, na Avenida 24 de outubro, em frente à Praça Joaquim Lúcio, e decididos fundaram o que é hoje o clube mais antigo de Goiânia, o Atlético Clube Goianiense. As cores e símbolo do clube foram uma homenagem a Flamengo e São Paulo, clubes que nutriam a torcida de parte dos fundadores do Atlético.

O Atlético é um clube de origem popular, sua fundação está ligada diretamente a uma iniciativa comunitária, fruto da ação de moradores e pequenos comerciantes do tradicional Bairro de Campinas e da Vila Operária. Campinas anteriormente era uma cidade e passa à condição de bairro para se tornar a principal base de apoio para a fundação da capital, Goiânia, que ocorreu em 1933.

Mas o Atlético em seus 83 anos pode ser considerado “O Clube mais Tradicional do Estado”? Afirmo que sim e justifico. Outros clubes podem ter mais títulos atualmente, hoje em dia podem até ter mais torcedores…mas quando o assunto é Tradição, História do Futebol, não há como concorrer com o rubro-negro goiano. Afinal o futebol não começou com o Clube dos 13 e nem a partir dos anos 90. Quanto mais velho um clube mais momentos significantes ele produziu para o esporte, contribuiu com seu crescimento e fortalecimento. Quais times goianos já tinham um arquirrival e disputas memoráveis nos anos 40 e 50 e ainda estão em atividade? O Atlético pode se orgulhar disso.

Começamos pelo fato do Atlético ser o primeiro clube a ser fundado na capital, em 1937, em seguida o fato se ser o primeiro campeão goiano, em 1944. Mas não para por aí, o fato do Atlético ser um time que surgiu representando uma cidade/bairro centenário, que é Campinas, faz com que carregue um peso e histórias que ultrapassam seus 83 anos, carrega a memória de toda uma comunidade, de religiosos, de artesãos, de artistas, escolas… dos 209 anos da Campininha das Flores. Torcer pelo Atlético é uma forma de estar ligado ao bairro de origem do clube, significa defender sua gente, suas raízes, sua região.

Ser tradicional também é ter o estádio particular mais antigo da capital, ter histórias para contar desse estádio desde os anos 30, um campo de futebol que se confunde com o clube e com a vida do torcedor atleticano. Afinal de contas que time no longínquo ano de 1967 já decidia título goiano em seu estádio próprio? Só o Dragão, no acolhedor Estádio Antônio Accioly. Que outro torcedor dá tanta atenção, luta e dedica amor a um Estádio como o torcedor atleticano ao longo desses 83 anos? Isso é Tradição.

Mas voltemos ao futebol, o Dragão foi o primeiro clube goiano, ainda nos anos 40, a revelar jogadores que viriam a fazer sucesso em nível nacional, exportando craques de sua base para os principais centros do futebol. Foi o caso de Whashington da Silva apelidado depois por “Goiano”, campeão com o Atlético em 1947, e que se tornou o maior zagueiro da história do Corinthians segundo divulga o próprio clube paulista. Também nos anos 40 o Dragão exportou Dido, que foi jogar no São Paulo e depois na Itália, e Pedro Tocafundo, que jogou no Palmeiras e Atlético Paranaense, ambos campeões goianos com o Atlético em 1944.

Em uma época onde os principais craques brasileiros jogavam no Brasil, tempos de Garrincha e Pelé, vencer um time do Eixo RJ-SP era algo impensável para o futebol goiano, pois o Atlético quebrou essa barreira e conquistou a primeira vitória de um time goiano contra um dos grandes, em 1958, venceu por 1 a 0 o São Paulo de Zizinho (craque da Seleção Brasileira em Copa do Mundo) no Estádio Olímpico.

Enquanto nacionalmente o Brasil colecionava taças mundiais aqui nas terras goianas o Atlético ganhava títulos, tinha a maior torcida e revelava grandes jogadores, como Luizinho, Campeão Goiano em 1964 e que foi para o Vasco, onde levantou o caneco do Torneio Rio-SP de 1966, e chegou a ser cogitado pelos jornais cariocas como substituto de Garrincha na Seleção Brasileira. Infelizmente em uma fatalidade de jogo quebrou a perna, o que prejudicou sua carreira.

Tudo isso ocorria enquanto clubes goianos que vieram a crescer e se destacar somente pós anos 70, como o Goiás, dormiam um sono profundo do ponto de vista de grandes realizações, títulos e feitos no futebol. Dos anos 40 aos anos 60 o Dragão se orgulhava de ser chamado de “Clube do Povo”. Nos anos 60 é novamente pioneiro e realiza a melhor campanha de um time goiano na elite do futebol nacional, ficando em 6º lugar na Taça Brasil de 1968, considerada pela CBF como equivalente à Série A que temos hoje. O Dragão só foi eliminado do campeonato pelo Cruzeiro dos craques da Seleção Brasileira: Piazza, Tostão e Dirceu Lopes. Outro time goiano a fazer uma campanha melhor no Nacional só foi ocorrer quase 20 anos depois, nos anos 80.

Em 1971 quando o futebol de Goiás ainda padecia do descaso dos grandes centros foi o Dragão o pioneiro a fazer com que todos voltassem os olhos para nosso Estado. O Atlético foi o primeiro time goiano a ganhar um título nacional, vencendo o Torneio da Integração Nacional e derrotando na final a então vice-campeã paulista, Ponte Preta. A competição envolveu equipes de 10 estados diferentes e foi destaque na Revista Placar, grandes jornais nacionais da época e teve o apoio da Confederação Brasileira de Desportos-CBD (atual CBF).

Por fim, então, como medir a Tradição de um clube? Pelo tempo em atividade, pelas décadas de grandes jogos, momentos memoráveis, rivalidades, títulos, jogadores revelados, ídolos, impacto na vida da cidade e do bairro de origem ao longo de toda sua trajetória.

Por isso podemos afirmar sem dúvida que o pioneiro, o clube mais tradicional do Estado, é o Atlético Goianiense, por suas realizações e importância para Goiás dos anos 30 aos dias de hoje. Estamos falando do mais antigo (1944) e mais recente campeão goiano (2019), de um time que em 1962 tinha um jogador com a espetacular marca de 537 jogos, o lendário Epitácio que jogou unicamente com a camisa do Atlético entre os anos 40 e 60, do primeiro clube a revelar um jogador que vestiu a camisa da Seleção Brasileira (de base em 1977 e principal em 1980), que revelou o primeiro jogador goiano a ser campeão com a Seleção Brasileira, na Copa América de 1989, Baltazar “Artilheiro de Deus”. O único clube goiano campeão em todas as décadas desde sua fundação, o maior campeão nacional dessas terras (1971, 1990, 2008 e 2016), o único clube do Estado a ter um título nacional em competição com a presença de um dos grandes do eixo RJ-SP-MG-RS (Série B sobre o Vasco em 2016), e isso são razões de sobra para a torcida entoar nas arquibancadas “Somos do Bairro de Campinas, Bairro de Luta e Tradição”. Viva os 83 anos do Atlético Clube Goianiense.

Ps: O texto não tem a intenção de diminuir a história dos clubes irmãos do futebol goiano mas sim mostrar que a História do Futebol é viva e que precisa ser revisitada em toda a sua extensão. O PSG pode ter mais títulos, mais torcedores, estrelas, mais destaque na atualidade do que o Olimpique de Marselha mas em termos de história e tradição o Olimpique é maior, o que não significa que os dois não sejam importantes para o futebol francês.

Paulo Winícius Maskote– Atleticano, Campineiro, Historiador, Professor, Doutorando em História pela USP. E-mail: [email protected]

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