Agora lembraram da torcida?

É pesaroso que o torcedor atleticano tenha que ler, e escutar, de vez em sempre, declarações de dirigentes falando mal da própria torcida, aliás, sob qualquer aspecto algo pouco produtivo, como se o ato de criticar a torcida fizesse aumentar, em algum canto do mundo, público presente em estádio.

Como se já não bastassem o ataques da imprensa verde e vermelha, e dos dirigentes dos adversários da capital, a estima do atleticano tem que ser agredida também pela própria diretoria do clube. A bola da vez foi criticar o número de torcedores presentes no jogo contra o CRAC, às 10 horas da noite, com transmissão da TV, com o ingresso sendo o dobro do preço que era cobrado no Brasileiro Série B, um campeonato com nível técnico muito melhor e onde tínhamos um time mais atrativo. Ou seja, ao invés do clube brigar com a TV Anhanguera para que os jogos transmitidos sejam os que são fora de casa e para que o campeonato não coloque jogos em horários que impedem quem pega ônibus de ir ao jogo (Porque o horário em que acaba o jogo coincide com o que se encerra o transporte coletivo), preferem falar mal da torcida.

O Atlético colocou 1.200 pessoas no jogo contra o CRAC, público semelhante ao que o Goiás colocou contra o Rio Verde na Serrinha. Ou seja, o problema não é do torcedor do Atlético, é do desrespeito em geral com todos torcedores, falta de atrativos, horários, nível técnico lastimável e ingressos caros, ninguém é bobo.

Agora cá entre nós, por que só lembraram do torcedor agora ? Para não ter que fazer autocrítica das contratações, do desmanche do time da série B, da não manutenção de jogadores como Lino, Bambu, Marlon, Alisson e Romário? A responsabilidade por esse pífio inicio de campeonato – mesmo com um orçamento cinco vezes maior que o do ano passado, com maior poder de investimento do que a maioria dos adversários – é da torcida ? Talvez seja um pouco da arbitragem? Mas nunca da Diretoria?

Por que não se lembraram do torcedor quando centenas de atleticanos estavam na porta do estádio Antônio Accioly no final de 2016, no escuro, após os jogos contra Tupi e Bahia, implorando por uma simples passagem dos jogadores com a taça para confraternizar com a torcida? Quase todos ali pertencentes aos fieis que estão em todos os jogos, nas vacas magras ou gordas.  Por que não se lembraram da torcida quando essa pediu uma festa do título da série B? Tal qual fizeram Avaí e Bahia pelo simples acesso. Na hora de pegar na taça, tirar foto com a taça, de festas fechadas em churrascarias, lembraram-se da torcida? Na ocasião bastavam os assessores de deputado, advogado milionário, os amigos da corte? E agora ? Não dá para apelar pra eles encherem o Olímpico?

Querem a torcida por perto? Por que não tomaram as providências para que os amistosos da pré-temporada fossem abertos ao público no Estádio Antônio Accioly? Começam o ano de costas para a torcida e agora querem colocar a culpa no torcedor? Só agora o torcedor se tornou importante?

Por que não há/houve uma preocupação em dialogar com a aguerrida e fiel Torcida Organizada Dragões Atleticanos e garantir a eles um lugar embaixo da arquibancada coberta do Estádio Olímpico? Com isso a bateria e os cânticos teriam maior repercussão e contagiariam o restante da torcida. Ou mesmo microfonar e articular a bateria com o som do Estádio.

As questões que estão colocadas são: O que o clube faz para angariar novos torcedores e fidelizar sua torcida no estádio? O que o clube faz para agraciar o torcedor que vem se aproximando? Criticar e cobrar amor? Selecionar torcedores entre verdadeiros e falsos? Desculpem-me, mas não basta. Vejamos alguns motivos que afastam o torcedor do estádio e do clube.

O Atlético é o único clube das series A e B que não tem programa de sócio torcedor, clubes das series C e D, com torcidas bem menores, tem esse tipo de programa para atrair e fidelizar o torcedor. Ao invés de aumentar o número de escolinhas em bairros da periferia, de outras cidades, elas vêm diminuindo, sendo fechadas. Não há uma campanha, um programa, para aumentar o quadro de sócios proprietários, atrair mais gente para o clube, pelo contrario, há pessoas querendo comprar títulos há quase um ano que não obtém retorno.

Não há uma política de valorização e recuperação de seu maior patrimônio, o Estádio Antônio Accioly, no sentido dele receber treinos abertos, jogos menores, amistosos, e principalmente partidas do Campeonato Goiano. A torcida atleticana tem raízes profundas com o bairro de Campinas, mas ali não há uma programação de atividades que aproximem o time do torcedor, como a transmissão de jogos do Atlético que são fora de casa, em telão, com festa e recepção ao torcedor, o que geraria inclusive dividendos financeiros ao clube.

A equipe já se apresentou há mais de um mês e até hoje não houve lançamento do uniforme novo, com mais uma estrela de campeão nacional, enquanto vários clubes já lançaram o uniforme de 2017. Também nada se comenta sobre um lançamento público desse novo uniforme, em um formato que atingisse um grande numero de torcedores. Corremos o risco de mais uma vez ser uma cerimonia cara e para poucos, como foi em 2016, contribuindo para uma elitização e a não popularização do clube.  A loja com material do clube foi fechada em Campinas e não há previsão de que seja reaberta.  Não há uma sala de troféus, um museu, onde um pai possa levar seu filho para ver as glórias e taças desses 80 anos do Dragão. Aliás, estamos a menos de 45 dias do aniversário de 80 anos do Atlético e até agora não foi apresentada uma programação oficial de comemorações para o ano, de eventos, de materiais diferenciados, de camisa retrô, uma revista comemorativa, de homenagens… Nada.

Se querem a torcida perto, façam como os grandes e médios clubes, profissionalizem o marketing. O torcedor atleticano quer levar seu filho no estádio e ver o Mascote-Dragão em campo fazendo festa, ver a criançada das escolinhas de futebol entrando em campo com o time, a volta da Charanga, atrações no intervalo, homenagens a antigos jogadores, tal qual acabou de fazer o Corinthians que levou todo o time campeão de 1977 para ser homenageado antes de seu último jogo. Promoções para quem levar o ingresso do jogo anterior, para quem levar o pai ou o filho, promoção para as mulheres. Vamos ser criativos, cativar mais do que agredir o torcedor.

Não desmereçam ainda mais nosso calejado torcedor, não é ele que se desfaz do patrimônio do clube, não é ele que gera dívidas milionárias para o Atlético. Pelo contrário, o torcedor atleticano é recordista em apostas na Time Mania, está acima da torcida do Vila Nova, gerando sim muita renda para o clube. O rubro-negro vai ao estádio nas vacas magras também, ou alguém se esqueceu dos 20.000 atleticanos no jogo que valia rebaixamento contra o Guaratinguetá em 2013? Ou alguém se esqueceu de quando o Accioly sediava os jogos do Dragão? Ali tivemos varias vezes a maior media de publico do Goianão.

O torcedor atleticano é crítico e inteligente, não é vaca de presépio, se o time é desfigurado, o ingresso dobra de preço, o campeonato é pífio em qualidade, se a Diretoria demonstra historicamente que não o quer por perto, ele não vai só para dizer amém. O Dragão não começou em 2005, tem 80 anos de glórias, tradições e lutas, nascidas e enraizadas no Bairro de Campinas, e não tem dirigente nenhum que tenha autoridade para falar mal do maior patrimônio do Atlético, o seu torcedor.

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