Primeiro time goiano a ganhar um título nacional – Atlético Goianiense de 1971

Nesse mês de outubro de 2016, às vésperas de confirmar seu acesso para a elite do futebol brasileiro, o Atlético comemora 45 anos da conquista do campeonato mais importante da sua história, o Torneio da Integração Nacional. Com uma foto em seis colunas, de fora a fora, com a manchete “Atlético, Campeão nº 2 do Brasil”, um dos mais importantes jornais esportivos da época, “A Gazeta Esportiva”, de São Paulo, publicou ampla reportagem sobre a conquista do Torneio da Integração Nacional, realizado no ano de 1971 em Goiânia. Enquanto o Atlético Mineiro ganhava o título nº 1, o Atlético Goianiense ganhava o título nº 2. O Dragão ganhava um título equivalente ao que reconhecemos como a Série B do Campeonato Brasileiro de hoje em dia.

 

O campeonato foi um divisor de águas para o futebol goiano, com repercussão nacional os jogos concorriam nos concursos da loteria federal, eram notícia em revistas como a Placar e em rádios e tvs do eixo Rio-São Paulo, como a TV Tupi que mandou repórteres para cobrir a final em Goiânia. Patrocinado pela Federação Goiana de Desportos – antecessora da Federação Goiana de Futebol – na gestão de Baltazar de Castro, e tendo como um de seus organizadores o então presidente do Goiás, Hailê Pinheiro, o Torneio da Integração Nacional reuniu 16 clubes de 11 estados, nos moldes de uma Copa do Mundo, com quatro grupos de quatro participantes. Segundo o jornalista Jânio José “O Torneio contou com atletas de destaque, como o goleiro Waldir Peres (Na Ponte Preta, negociado com o São Paulo) e o lateral Marinho Chagas (No Náutico, que foi para o Botafogo e foi titular na Copa de 1974)” , destacando-se ainda o técnico do Fortaleza, Carlos Castilho, que como jogador e goleiro havia sido bicampeão do mundo com a seleção brasileira.

 

Por aqui passaram clubes de São Paulo, Rio de Janeiro , Paraná, Bahia, Pernambuco, Ceará, Maranhão, Espirito Santo, Paraíba e Amazonas e ainda seis clubes de Goiás (Atlético, Goiás, Vila Nova, Goiânia, Anápolis e Campinas) fizeram-se presentes no torneio, que chegou ao final, em melhor de três partidas, entre Atlético e Ponte Preta de São Paulo, na época vice-campeã paulista.

 

Durante todo o torneio a equipe do Dragão perdeu apenas para o Goiás nas oitavas de final e para a Ponte Preta no primeiro jogo da decisão, porém o Dragão manteve a tranquilidade e venceu os dois jogos restantes, conquistando o que os jornalistas Lisita Junior e João Batista Alves Filho chamaram à época de “O MAIS EXPRESSIVO TÍTULO JÁ CONQUISTADO POR UM CLUBE DE GOIÁS”. Segundo Lisita Júnior “o fato merece registro especial porque abriu as portas do futebol brasileiro para os goianos até então esquecidos e colocados em plano inferior”.

 

 

Com raras e elogiosas exceções, de jornalistas e veículos de comunicação, o título de campeão nacional do Dragão acabou caindo em um infeliz esquecimento pela crônica esportiva goiana e pelas próprias diretorias que passaram pelo Atlético, que sempre custam a relembrar e destacar tal feito, passando por cima do fato de que o Dragão foi o primeiro time goiano a conquistar um título brasileiro, ostentando hoje então três conquistas nacionais: 1 Torneio da Integração Nacional e 2 Campeonatos Brasileiros da Série C.

 

Uma estrela de Prata referente ao título do Torneio da Integração Nacional deveria figurar na camisa do Dragão, bem como o clube fazer um pedido formal à CBF pedindo a homologação dessa conquista como equivalente a uma série B, ou mesmo reconhece-la como um campeonato nos moldes do atual Torneio da Primeira Liga, reconhecido pela CBF como um campeonato nacional diferenciado da Copa do Brasil e do Campeonato Brasileiro.

 

Um das provas inequívocas de que o Atlético pode fazer a reivindicação de reconhecimento desse título como equivalente a uma série B é que esse torneio foi apoiado pela Confederação Brasileira de Desportos à época, atual CBF, e, portanto foi muito mais que uma competição amistosa, conforme trecho da Revista Placar:

 

VEM AÍ O “INTEGRAÇÃO”

 

Com este título, a Revista Placar deu a seguinte informação:

“Quando surgiu a ideia, foi um rebuliço em Goiânia. Mas, depois, as dificuldades foram aparecendo…”. Esta semana a grande noticia chegou, vindo simultaneamente do Rio e do Governo do Estado de Goiás: do Rio, a aprovação da CBD. João Havelange achou muito boa a ideia, prometendo oficializar o torneio, desde que prove ser rentável. E, ainda do Rio, a promessa do brigadeiro Jerônimo Bastos de que o CFD vai estudar uma fórmula de ajudar quanto aos transportes. Do governo goiano, a liberação de Cr$ 105.000,00 para as despesas de estada das delegações de outros estados. (Placar, 16/07/1971, pág. 29).

 

É urgente que o Atlético produza um dossiê bem embasado, com documentos e registros da época, pedindo o reconhecimento do Torneio da Integração Nacional pela CBF. Alguns poderiam questionar que já ocorreu uma série B no ano de 1971 e não poderíamos ter dois campeões de títulos equivalentes no mesmo ano. Ledo engano. Nos anos de 1967 e 1968 a CBF reconhece dois campeonatos nacionais como correspondentes ao campeonato brasileiro da série A, a Taça Brasil e o Torneio Roberto Gomes Pedrosa, onde em 68 tivemos dois campeões da elite: Botafogo e Santos. Poderíamos nos perguntar então se esse formato de Copa, com poucos jogos, poderia premiar um campeão nacional, e já respondo que sim. O Villa Nova de Nova Lima foi campeão da série B de 1971, fazendo 8 jogos, um a menos que o nosso Dragão Campineiro que fez 9 jogos. E a representatividade do Torneio da Integração Nacional, poderia ser questionada? Muito menos. Ao contrário das séries B de 1971 e 1972 reconhecidas pela CBF, o Torneio da Integração Nacional teve representação de times das 5 regiões do país, a “B” de 1971 só tinha times de 4 regiões e a série B de 1972, conquistada pelo Sampaio Correia, foi pior ainda, foi um torneio só com times do nordeste, poderia no máximo ser chamada de Copa Nordeste mas é homologada como Campeonato Nacional da Segunda Divisão pela CBF.

 

E sobre a força dos times que disputaram o Integração? Será que vieram só times desconhecidos, “galinhas mortas” ? Com certeza não, praticamente os principais times dos Estados participantes, os que não estavam na “Série A” de 1971, vieram para jogar o Torneio Integração, vejamos: A Ponte Preta era a vice-campeã-paulista de 1971, o Fortaleza era o atual campeão do Torneio Norte-Nordeste de 1971, o Atlético havia sido campeão goiano de 1970 e o Goiás era o campeão de 1971 com o Vila Nova sendo o vice, o Fast do Amazonas vinha de um bicampeonato amazonense em 1970-71, a Desportiva tinha sido vice-campeã capixaba em 71, também o União Bandeirante havia sido vice-campeão paranaense naquele ano, o Fluminense de Feira de Santana era o vice-campeão baiano de 1971, o Náutico, que vinha de um fantástico hexacampeonato pernambucano no final da década de 60, havia sido vice-campeão estadual no ano anterior, também em 1970 o Botafogo da Paraíba havia sido campeão estadual, tivemos ainda o time do Campo Grande, do Rio de Janeiro, que viria a ser campeão da série B no início da década de 80 e também o tradicional clube do Maranhão, Moto Clube, que já naquela época ostentava 13 títulos estaduais. Ou seja, não é nada difícil provar a justeza do reconhecimento dessa grande conquista junto à CBF.

 

Por fim, em um momento em que o Dragão caminha para seus 80 anos de existência, disputando o título da série B de 2016, nada melhor que celebrar os heróis e conquistas que honram a trajetória do time mais tradicional de Goiás. Não há que se discutir que esse Torneio, organizado e reconhecido pela Federação Goiana de Futebol, é muito mais importante em nossa galeria de troféus do que qualquer Campeonato Goiano, Taça Brasil Central ou Copa Centro Oeste. E o melhor de tudo, foi um torneio onde os maiores rivais do Atlético participaram e ficaram de expectadores assistindo o Dragão ser campeão. Já pararam para pensar? Enquanto em 1971 o Goiás tinha só 2 títulos estaduais, era o time dos 33 torcedores, o menor da capital… o Dragão Campineiro, o clube do povo, já ganhava título nacional. Por isso que a tradição do time de Campinas é incomparável.

 

Por essa e por outras que precisamos celebrar os heróis rubro-negros, viva o elenco atleticano campeão do Torneio da Integração Nacional: Zé Geraldo, Raimundinho, Luizinho, Lico, Claudinho, Paghetti, Dadi, Dezoito, Poli, Pedro Bala, Beloianes, Nelsão, Vavá, Jota Alves, Marcos, Ronaldo, Dida, Tung e Celso. Técnico : Paulo Gonçalves.

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