Futebol e Política – Uma crônica dos recentes acontecimentos

Hoje abrimos espaço para o brilhante texto do atleticano Gabriel Mendonça. Será que estamos vivendo em um clima de brigas de torcida de futebol na política de hoje ? Ou é o futebol que está padecendo por conta das disputas políticas ? E quem tem perdido em meio a isso tudo ? O trabalhador ? O torcedor do time que não é apadrinhado das grandes emissoras de TV ou da CBF ? É tudo isso e mais um pouco o texto abaixo.

Por: Gabriel Mendonça

NO PAÍS DO FUTEBOL, OS TEMPOS SÃO DE DUELO E BRIGA ENTRE AS TORCIDAS

O palco está montado, parece reta final de um campeonato em que a cada rodada um dos candidatos ao título assume a dianteira. A imprensa só fala nisso, e como sempre, cada emissora tem seu time favorito. Os jogadores se alfinetam e inflam as torcidas. Os torcedores se provocam por todos, nas ruas, nas redes sociais, grupos de amigos, na família e pessoalmente, sempre movidos à paixão. Quase sempre ufanistas e violentos com os torcedores adversários, e “ai” de quem disser que não torce ou torcerá para nenhum dos aspirantes à esta conquista. Pouco importam se seus times chegaram até lá com falcatruas, gols impedidos, jogadores irregulares e ajuda da arbitragem. No clássico que se repete no Brasil há mais de uma década, o que importa é ganhar. Uns já contam vitória antes da hora, mas ainda tem bola e parece imprevisível dizer quem leva o título dessa vez.

Afinal, dentro de campo estão jogadores conhecidos, reconhecidos profissionais, muitos ícones desse esporte, todos muito experientes e com altíssimo salário, no geral, sempre saem ganhando bem com essa história toda, levem a taça ou não. Pois, persistindo a tendência, terão os contratos renovados ou seguirão a vida como cartolas e figurões do futebol.

Além disso, como todo bom clássico, tem vários jogadores que mudaram para equipe rival, os famosos “vira casaca”. Jogam onde pagam melhor. E alguns torcedores ainda sofrem, nostalgicamente, com o tempo em que jogavam por amor à camisa.  Alguns por ingenuidade, é bem verdade, outros por puro cinismo.

O que não falta é polêmica, e nesse quesito, o apoio da arbitragem, da instituição organizadora e dos tribunais desportivos é essencial, e palco de uma grande disputa. O clima é confuso, jogadores suspensos entram com recurso e volta à campo, para outros o ganho é estendido. Ao passo que outros sequer vão à julgamento. Enquanto um time perde pontos, a outro, autor das mesmas irregularidades, nada acontece. Já não será surpresa se o título for decidido no tapetão.

Mas no país do futebol quem mais se agita e mergulha sentimentalmente são as torcidas. Quanta paixão! O torcedor veste a camisa, grita, xinga, buzina, faz passeata e só tem olhos para as suas cores, só consegue ver os deméritos do outro time. Sequer toleram as cores que lembrem os adversários, agridem mesmo. Sobretudo as organizadas, cegas de paixão e dominadas pelo ódio. Aliás, parecem mover-se mais pelo ódio do que torcer para o próprio time.

Os que mais sofrem são os que não se agradam com nenhum dos times, ou mesmo aqueles que já desistiram do futebol. Desiludidos grupos que o veem como jogo de carta marcadas, no qual alguns times nunca têm chance contra os milionários. Atores sociais que nunca entraram no estádio e que sentem na pele que, por mais esforço que façam para doar seus recursos emocionais e materiais aos times, são eles os que mais saem perdendo. Embora deem o suor por um escudo, no fim da história, são os jogadores mercenários que estarão entre as quatro linhas e o título estará nas mãos de quem os paga, da arbitragem e do tapetão.

Ainda assim, no decorrer das rodadas, parece que as coisas só serão decididas na última partida, justamente quando as equipes terão um confronto direto. Da última vez venceu o atual campeão, mas, o momento parece estar mais para o adversário. Os indícios menos apaixonados são de que os patrocinadores decidirão quem deve levar o título. Afinal, de um belo camarote, assistem com muito prazer, no geral são praticamente os mesmos que há décadas financiam as equipes, mas que agora se perguntam se o campeonato teria mais visibilidade, mais graça, e lhes seria mais lucrativo trocando o campeão ou seguindo o time vencedor das últimas edições. O que se tem certo é que seguirão sendo os donos da liga e de bolso cheio, e a instituição que a controla mudará, no máximo, algumas figurinhas. Continuarão senhores do futebol, os donos da bola, delimitando o perfil de quem lhes interessa, do público que lhes interessa, decidindo quem ganha e quem perde, quem joga e quem assiste, quem vai ao estádio ou quem fica com o rádio e a TV.

 

Foto Gabriel Atleticano
Gabriel Silveira Mendonça é bacharel e licenciado em Psicologia-UFG e mestrando em Psicologia pela PUC-Campinas

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