A criação dos mascotes dos times da capital

DA ADOÇÃO DO ÍCONE “DRAGÃO DA CAMPININHA” PELO ATLÉTICO CLUBE GOIANIENSE, OU, DE COMO SURGIU A ESCOLHA DO SÍMBOLO “DRAGÃO” PELA DIRETORIA DO ATLÉTICO CLUBE GOIANIENSE

No último quinquênio do final década de 30 foi fundado o Atlético Clube Goianiense, em 2 de abril de 1937, graças ao empenho de alguns abnegados e apaixonados pelo futebol, que residiam no bairro de Campinas.

Nomes como Edson Hermano, João de Brito Guimarães, João Batista Gonçalves, Calimério Machado, Reinaldo Toni, Alberto Alves Gordo, Ondomar Sarti, Benjamim Roriz, Antonio Accioly, entre outros, deram uma efetiva contribuição no sentido de se criar e difundir a prática do futebol como esporte, na moderna capital de Goiás – Goiânia – em ritmo acelerado de construção.

Na seqüência dos anos, incentivado pela nova modalidade de esporte que se revelava promissora e de interesse da comunidade goianiense, assim como do próprio governo estadual identificado com o carismático do Dr. Pedro Ludovico Teixeira, governante que investia no seu projeto político de mudança e construção de uma nova e moderna capital para o Estado de Goiás.

O futebol como modalidade esportiva popular já se fazia presente, praticamente, na maioria das capitais brasileiras, e, Goiânia carecia dessa prática esportiva.

Após a fundação do Atlético Clube Goianiense, o passo imediato foi a criação do seu adversário, o Goiânia Esporte Clube (28 de Julho de 1938). Em 6 de abril de 1943, surgia o Goiás Esporte Clube, e, no mesmo ano, o Vila Nova Futebol Clube (29 de julho de 1943). Estes quatro times, mais o Campinas foram os primeiros que disputaram, como representantes do futebol goianiense, o campeonato goiano, após a criação da Federação Goiana de Futebol (FGT), em 1944.

Ao ser fundado, o nome escolhido “Atlético” já era bem conhecido em vários times de capitais brasileiras, a exemplo do próprio São Paulo, fundado em 25 de janeiro de 1930, que se originou da fusão da Associação Atlética das Palmeiras com o Clube Atlético Paulistano (tetracampeão paulista); o Clube Atlético Mineiro (o Galo), fundado em 25 de março de 1908; o Clube Atlético Paranaense (o Furacão), fundado em 26 de março de 1924, além de outros.

O fato curioso é que, de modo geral, se buscava proteger (blindar) os times de futebol contra os seus adversários, com determinados ícones que impussessem medo e respeito.

O Goiânia, o principal oponente do Atlético por mais de quatro décadas, buscou proteção com o “galo indiano”, bom de briga, de esporas afiadas e mortal para o combate na rinha (o campo);

O Vila Nova, também, foi lá na India buscar o seu ícone protetor, o “tigre de Bengala”, felino de grande porte que possui a cabeça, o tronco e a cauda listrados de negro, o dorso e os flancos variando do laranja avermelhado ao ocre avermelhado, tendo a região ventral de cor creme ou branca. O seu habitat são as florestas tropicais, os mangues ou savanas.

O Goiás, querendo dar uma de nacionalista palmeirense, adotou o periquito todo verdinho de asa amarela, como o seu guru, avezinha chilreadora que é boa, tão somente, para fazer barulho.

Já, a história do dragão chinês como símbolo protetor do Atlético Clube Goianiense passa por uma análise mais explícita, afim de justificar a sua escolha pelos dirigentes atleticanos daquela época.

Primeiramente, há que se retornar a bucólica Campininha dos anos 30, com o intuito de conhecer o ambiente sócio-cultural que os campineiros desfrutavam como lazer e diversão.

Em 1933, época em que foi lançada a pedra fundamental no sítio em que seria construída Goiânia, o município de Campinas possuía, aproximadamente,15.000 mil habitantes. Em 1940, Goiânia já tinha 40.000 habitantes.

Na época, no final da década, Campinas possuía unicamente três lugares onde o campineiro marcava presença efetiva, podemos dizer obrigatória:

A praça da Matriz de Nossa Senhora da Conceição, onde os fiéis iam para assistir a missa, participar de novenas e das quermesses promovidas pelos padres redentoristas, com o intuito de arrecadar fundos para implementar construções e outras ações benemerentes, também fazer a feira semanal que se realizava nas proximidades do Colégio Santa Clara;

A praça Joaquim Lúcio, com o seu histórico coreto no centro, lugar predileto da comunidade nos fins de semana onde crianças, jovens, adultos e velhos buscavam descanso, lazer e diversão. A banda de música instalada no alto do coreto encantava a todos os presentes com as suas retretas, principalmente aos mais velhos, enquanto as moças realizavam no espaço livre da praça, os footings, que tanto agradavam os jovens, postados, encantados e enamorados pela passagem delas, pelo corredor interno de circulação;

O Cine Campinas, mais tarde denominado Cine Tocantins localizado na Av. 24 de Outubro em frente a praça Joaquim Lúcio, adjacente ao Palace Hotel, era a única casa de projeção de filmes que havia em Campinas, sendo local de presença obrigatória para os campineiros que gostavam de cinema e buscavam entretenimento assistindo as sessões durante a semana, preferencialmente às quartas, sábados e domingos, dias em que passavam os filmes e os seriados. Entre estes últimos, a título de exemplificação, registro os seriados do Aranha Negra, do Flash Gordon no Planeta Marte, o Príncipe Submarino, Nioka, Rainha das Selvas, o Fantasma, o Zorro, o Capitão Marvel, Homem de Ferro, o Mão-de-Gancho etc., além dos famosos cowboys dos Estados Unidos – Tom Mix, Buck Jones, Roy Rogers, Randolf Scott, Hopalong Cassidy, Charles Stareth entre outros – que agradavam a todos os frequentadores. Entre os seriados de nossa predileção, e que enfocava ambiente de suspense e terror, a série o Fu-Ma-Chu, nome do diabólico oriental que representava o lado do mal da história, sempre protegido pela gangue do “dragão vermelho” que circulava por ambientes apavorantes, cheios de armadilhas, de alçapões e poços povoados por serpentes, crocodilhos, piranhas, tubarões, onde os seus inimigos eram lançados. Os dragões estavam presentes em todos os lugares do sombrio e aterrorizante palácio do Fu-Ma-Chu.

O campineiro do passado, incluindo eu, tinha na cabeça a figura mitológica do dragão chinês como símbolo maior de força e poder na luta contra os seus inimigos, e ainda com os seguintes aditivos: possuia rabo com aguilhão ponteagudo para atacar e se defender; patas com cinco garras poderosas e afiadas; asas para voar com esporões nas extremidades; soltava fogo com labaredas pelas ventanas e pela garganta e possuia língua sagitada que se movia com rapidez para cortar os seus inimigos.

Na numerologia chinesa, o número 5 representa poder e sorte na luta contra o mal. A figura do dragão com patas de cinco garras está muito presente na arte chinesa da dinastia Ming (1368–1644).

Na pequena comunidade de Campinas onde havia poucas opções de lazer e divertimento, o Cine Campinas -Tocantins era, sem dúvida, um local de preferância de muitos dirigentes e torcedores atleticanos. Quando se criou o Atlético Goianiense, a figura do dragão oriental já era bastante conhecida de muitos dos assíduos frequentadores do cinema, e estava gravada na mente de muitos de nós campineiros. A lembrança do dragão combativo como símbolo chinês de proteção e poder de ataque e defesa, possivelmente, veio à cabeça de muitos dirigentes atleticanos, sendo aceito e incorporado como o ícone do Clube. Não foi de imediato a escolha.

Criado o Atlético em 1937, o símbolo só foi adotado pelo Clube e pela torcida, na sequência dos primeiros campeonatos oficiais, patrocinados pela Federação Goiana de Futebol. Pode-se afirmar, com toda segurança, que foi durante a década de 40, que o dragão como ícone do Atlético foi incorporado a mente do torcedor atleticano, a medida em que o “canto do guerreiro”, gravado na voz do seresteiro Josafá Nascmento, se fazia presente no estádio Antonio Accioly e no Olímpico (Pedro Ludovico) da avenida Paranaíba:

“Meu Atlético,
meu estandarte,
modéstia à parte tem a força
quente de um Dragão.

. . . .

O estádio estremece e a galera enlouquece,
O foguetório ensurdece para o Dragão entrar,
Vem de garra afiada lançando fogo loucado

. . . .

Sai da frente que o Dragão é chapa quente,
Sai da frente que o Dragão põe prá quebrar.

. . . .

Sangue vermelho é o que corre em minhas veias,
E a cor vem lá dos meus ancestrais.
Minha cabeça um Dragão Atleticano,
Meu coração é rubro-negro até demais.

Recentemente, em 2005, o conhecido campineiro atleticano, José Mendonça Teles, autor do livro: Atlético – Sentimento & Glória, compôs a letra de um novo Hino do Atlético Clube Goaniense, juntamente com o maestro Joaquim Jayme, que fez o arranjo musical:

Sou goiano e me orgulho da raça,
Sou Atlético, bandeira na mão a gritar, no campo, na luta,
Sou Dragão, sou Dragão, sou Dragão.

. . . .

Dragão, Dragão, Dragão
O povo em delírio:
Rebenta coração!

 

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Horieste Gomes – historiador e autor do livro “A saga do Atlético Clube Goianiense”

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